Quando eu tinha quatro anos de idade, em 1967, ganhei de um tio um
compacto simples, com duas músicas: Carolina de um lado e Tem Mais Samba do
outro. Me disseram que a música havia sido feita para mim - e guardei o meu primeiro
disco como um tesouro. Era a minha música e a minha história. O mesmo deve ter ocorrido
às Lígias, Angélicas e Rosas.
Francisco Buarque de Hollanda
nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de junho de 1944, mas sua família
mudou-se para São Paulo quando tinha dois anos - foi morar no Rio apenas
em 1970, após seu exílio na Itália.
Chico foi nossa revolução, em tempos duros de
repressão. Foi censurado por qualquer motivo, nos anos 70. Bastava aparecer na censura
uma música de sua autoria para os censores tentarem a transformação para peritos -
Chico escondia a revolução entre as linhas de suas letras - tempos de cuidados
redobrados. A uma certa altura a coisa ficou tão difícil que nasceu Julinho da Adelaide
para burlar a censura. "Julinho" compôs Acorda Amor e Jorge Maravilha
- essa última carrega até hoje uma lenda, negada por Chico: enquanto Geisel queria o
filho de Sérgio Buarque na ponta de uma corda, sua filha não perdia um único disco do
compositor. Ou enquanto o compositor era preso, o policial que o prendia pedia um
autógrafo para sua filha. Para quem foi? Tanto faz, Chico não perdia a chance de burlar
a censura. Foi perseguido a cada passo, teve seus microfones desligados durante um show
com Gil, quando foi apresentar Cálice ao público - mas tal qual Julinho,
escorregava pelas mãos da ditadura usando tão somente sua genialidade.
Modelador de palavras, tem o dom único de descrever sentimentos como quem vive cada
dor ou alegria - fala por nós - e não há quem, alguma vez na vida, ao ouvir suas
composições, não tenha jurado que Chico esteve por um momento em sua alma para ter
conseguido descrever a emoção indescritível.
Carô Murgel
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