"Lá no mourão esquerdo da porteira" era o verso preferido de Guilherme de Almeida: "É o mourão do lado do coração; eu queria ter escrito esse verso". Foi Guilherme quem descobriu e lançou na carreira artística aquele auxiliar de lava-pratos de um vagão restaurante, da Estrada de Ferro Paulista. Em uma viagem, o poeta, que era diretor da Rádio Cruzeiro do Sul, ouviu o menino, também poeta, dizer um poema caboclo de sua autoria e o convidou para procurá-lo em São Paulo.
Nascido em 5 de agosto de 1909 (registrado em 1910), filho de uma ex-escrava, Dona Domingas, e do maquinista José Batista da Silva, embora o nome do pai não conste do tardio registro de nascimento, João Baptista da Silva tocou sua infância na cidade onde nasceu, que à época se chamava Cordeiro, hoje Cordeirópolis.
Atento à música, aos cantadores, aos violeiros, sentia a vocação de poeta crescer com ele. Jamais tocou um instrumento, mas sua musicalidade espantava. Procurou no trem as estradas da vida e teve sorte ao encontrar Guilherme de Almeida. Em São Paulo, onde chegou em 1924, o poeta o encaminhou. Fez amizade e parceria com Raul Torres, juntos viriam a criar clássicos da música popular brasileira. Seu jeito calmo e tranqüilo motivou o apelido, que virou segundo nome, João Pacífico.
A primeira composição da dupla foi Seo João Nogueira, gravada por Torres e Aurora Miranda juntos, em 1934. No ano seguinte, Torres e Florêncio gravaram o imortal Chico Mulato (um segredo: na gravação original Florêncio não pôde comparecer e a segunda voz é do próprio João Pacífico). Daí para a frente centenas de composições e sucessos definitivos, como Cabocla Tereza, Pingo d'Água, Mourão da Porteira, Caco de Vidro, Doce de Cidra, por exemplo. Até sua morte, em São Paulo, em 30 de dezembro de 1998, aos 89 anos.
Arley Pereira
A
História da Música Brasileira Por Seus Autores e Intérpretes
SESC/TV Cultura
|