Os criadores da Música Popular Brasileira não formam um clube
fechado. É verdade que, entre eles, estão os eleitos, os que foram testados e não aconteceram, os injustiçados e, na periferia, os que tentam o ingresso e não conseguem.
Mas, honra seja feita, formam um clube aberto a quem tem talento. Pode ser que o ingresso seja difícil, mas acaba acontecendo para quem trás na cabeça e no coração as armas para sua própria eleição.
Eis o caso de Thereza Tinoco. As coisas foram ocorrendo por obra e graça do seu
talento. Ela não tentou programas de calouros, não ficou rodando as gravadoras e as editoras, nem andou à cata de produtores com fitinha na mão em busca de
oportunidade. O seu talento é que foi sendo revelado aqui e ali, até que chegou ao primeiro disco.
Thereza Tinoco, carioca, toca violão e faz música desde a sua
adolescência. Era aquela menina que, no grupo, faz o papel de
"artista". Em festinhas, pequenos shows de bairro, lá estava ela com seu violão a mostrar suas primeiras composições.
Um dia, sem que fizesse qualquer esforço para que isso acontecesse, estava diante da cantora Simone, numa reunião na casa de uma amiga
comum. Simone gostou de uma de suas músicas e gravou. Pouco depois era Marlene que
incluía "Ribalta", em suas apresentações no Projeto Pixinguinha.
Assim, qualquer pessoa que ouvisse músicas dessa jovem encantada pelas canções de Dolores Duran e Maysa, ouvidas na infância, manifestava prontamente o seu
entusiasmo. Isso aconteceu, por exemplo , com um grupo de pessoas de cinema que estava na cidade de São Lourenço, MG, nos mesmos dias que Thereza estava
lá. Ao ouvir as músicas, um diretor pediu imediatamente uma fita e ela fez. Não ficou boa.
Thereza então pediu ao amigo e produtor de disco Aderbal Guimarães meia hora num estúdio qualquer, dias depois estava no estúdio Hawaí, quando foi surpreendida pela reação de Aderbal e dos técnicos.
No lugar de entregar-lhe a fita Aderbal levou-a para a RGE-Fermata, onde logo conseguiu um contrato.
Ao lado de compositores consagrados, encontraremos também gente estreando através da interpretação de
Thereza. Ela mesma justifica: "Me deram a mão para que eu chegasse a um
selo. Mas me sobrou a outra mão para dar a alguém que esteja querendo subir".
De minha parte, escrevo: o espaço de Thereza Tinoco já está assegurado.
Sérgio Cabral.
Thereza lançou seu primeiro disco pela RGE, um compacto duplo, em 78.Em 79 o LP "Sempre me acontece,"onde gravou Herói
Animal (Thereza Tinoco/Nilson Chaves), Desgosto (Thereza Tinoco), Contigo
Aprendi (Armando Monzareno), regravando Sábado em copacabana (Dorival Caymmi), Mentira de
Amor (Lourival Faissal/Gustavo de Carvalho) entre outras. Em 81, também pela RGE saiu um compacto simples com O Viajante.
Em 85, já pelo selo Recarey, lançou o LP "Batom Grená", onde gravou O lugar onde
moro (Thereza Tinoco), Batom Grená (também de sua autoria), Maria Rosa e Quem há de
dizer (Lupcínio Rodrigues/Alcides Gonçalves), regravando ainda Una Mujer
(Paul Miraski/C. Olivari). Em 92, pelo selo CID, lançou "Ave Rara", cuja faixa título é parceria com Rosinha de Valença e divide a faixa com Ney
Matogrosso. Neste trabalho, todas as composições são suas e de seus parceiros,
como: Lavados Lençóis (T.Tinoco), Artista (T.Tinoco), Corrente
(T.Tinoco/Patrícia Nogueira) entre outros.
Simone foi quem primeiro gravou uma música sua, Desgosto, Marisa Gata Mansa gravou Artistas, Claudette Soares gravou Ave Rara, anteriormente também gravada por Lucinha Araújo, e, o grande sucesso e a consagração como compositora veio através de Ney
Matogrosso ao gravar O Viajante, tema do personagem de Tony Ramos, na novela da TV Globo, Baila Comigo.
Cláudia
Negri
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