(Reynaldo Bessa)
Da janela vejo a serra
Rara tela, mera solidão
De dia quase é ela
À tarde sim ou talvez não
De noite um céu só,
Com estrelas de ilusão
Lá na serra mora gente
Num inconstante vai-e-vém
Gente que não mais se sente
Sonhando sempre ir mais além
E nesse sempre quase nunca,
Se lembra de só ser alguém
Eu vou, eu vou, eu vou pra serra, eu sou
Eu sou , eu sou eu sou de terra
Pintou, pintou um canto prá te mostrar
Terra, musa, distante vizinha,
Velha, nova, quase uma irmã
Tu és de todos e também és minha
Mas és mais tua abnegada cã
Sem lua, nua tu vestes o horizonte
Em solitárias, pálidas manhãs
Lá na serra não pousa o rei
Penso nisso haver algum engano
Andei, rodei, me perdi e me achei
Nos teus braços soberanos
Te cheiro, sinto e me despeço
Ao som de um velho piano
Eu vou, eu vou, eu vou pra serra, eu sou
Eu sou , eu sou eu sou da terra.