(Adaptação de poema de Fernando Pessoa, por Renato Motha e Patrícia Lobato)
Um ruído velho
Marca o tempo
No relógio da estação
O trem do destino
Nessa via sem desvio
Apitou
Passa a indiferença
A impaciência
A reticência
A tempestade
O viaduto das almas
O abismo
A sorte
Vai se esgueirando
Pela trêmula paisagem
Lenta e lenta a hora
Turbulenta soa
E logo se desfaz
Lenta e lenta a morte
Sonolenta
Venta, e a vida se esvai
Tudo tão inútil
Tão divinamente fútil
Tudo certo, escrito
Preciso, previsto
No curso
Tudo tão absurdamente claro
Num segundo...
A terra é feita desse céu azul
Onde a mentira não tem ninho
Nunca ninguém está perdido aqui
Tudo é verdade e caminho
Se a morte é a curva da estrada
Morrer é só não ser visto
Se escuto, te ouço a passada
Existir como eu existo