Cais do corpo

(Paulo Freire e Roberto Freire)

Era uma rua estreita, barulhenta 
com gente andando por todo canto 
ele pensou sonhar estar num cais 
no cais do porto de Santos 

Luminosos em néon colorido 
piscavam nos hotéis, bares 
restaurantes, boates 
dizendo nomes dos mares 

Mas viu que era real 
que as mulheres o chamavam 
oferecendo o seu corpo 
cais do porto, cais do porto 

De repente a voz 
de uma mulher, Maria 
que parada à sua frente 
uma mesma frase repetia 

Maria fazia poesia sem pensar 
ser poesia o que queria dizer 
na cama para os fregueses 
para si mesma sem querer 

Maria inventava coisas lindas 
com as quais encobria 
o nome dos sexos 
e o que se fazia com eles todos os dias 

Ficou famosa por inventar 
ser seu sexo um cais 
o doce cais do seu corpo 
onde o sexo dos machos podia vir atracar 

Ela via naquele homem 
com o olhar perdido 
vagando, sem a ver 
tanto pedido de prazer 

E lhe dizia, e repetia 
cais do corpo, cais do corpo 

O encontro dos dois 
apagou as ruas, os hotéis 
calou os luminosos 
as boates, os bordéis 

Tudo vinha em ondas 
arrepios, explodindo em gozo 
um dentro do outro 
no cais do corpo, no cais do corpo 

Como vem do mar 
o barco navegante 
no cais do porto atracar 

Vem vindo do amor 
o barco do amante 
no cais do corpo atracar 

Viola e Voz: Paulo Freire 
Voz: Roberto Freire 
Voz: Mônica Salmaso 
Piano Digital: Benjamin Taubkin 
Viola Clássica: Fábio Tagliaferri 
Contrabaixo: Tuco Freire 
Pratos, Bumbo, Chimbau, Caxeta, Ganzás e Carrilhão: Adriano Busko
CD: São Gonçalo
Ano: 1998
Gravadora: Pau Brasil