Clara Crocodilo

(Arrigo Barnabé)

São Paulo, 31 de dezembro de 1999. Falta
pouco, pouco, muito pouco mesmo para o
ano 2000 e você, ouvinte incauto, que no
aconchego de seu lar, rodeado de seus
familiares, desafortunadamente colocou
este disco na vitrola, você que, agora,
aguarda ansiosamente o espocar da
champanha e o retinir das taças, você,
inimigo mortal da angústia e do
desespero, esteja preparado... o pesadelo
começou. Sim, eu sei, você vai dizer que é
sua imaginação, que você andou lendo
muito gibi ultimamente, mas então por
que suas mãos tremeram, tremeram,
tremeram tanto, quando você acendeu
aquele cigarro... e por que você ficou tão
pálido de repente? Será tudo isto fruto da
sua imaginação? Não, meu amigo, vá ao
banheiro agora, antes que seja tarde
demais, porque neste mero disco que você
comprou num sebo, esteve aprisionado
por mais de 20 anos, o perigoso marginal,
o delinqüente, o facínora, o inimigo
público número 1, Clara Crocodilo...

Quem cala consente, eu não me calo
não vou morrer nas mãos de um tira
Quem cala, consente, eu desacato
não vou morrer nas mãos de um rato
Não vou ficar mais neste inferno
nem vou parar num cemitério
Metralhadora não me atinge
não vou ficar mais neste ringue

Ei, você que está me ouvindo, você acha
que vai conseguir me agarrar? Pois então,
tome...
Já vi que você é perseverante. Vamos ver
se você segura esta...
Meninas, vocês acham que eles querem
mais?
Querem sim!
Você, que então é tão espertinho, vamos
ver se você consegue me seguir neste
labirinto.

Clara Crocodilo fugiu
Clara Crocodilo escapuliu
Vê se tem vergonha na cara
E ajuda Clara, seu canalha
Olha o holofote no olho,
Sorte, você não passa de um repolho

Onde andará Clara Crocodilo? Onde
andará? Será que ela está roubando algum
supermercado? Será que ela está
assaltando algum banco? Será que ela está
atrás da porta de seu quarto, aguardando o
momento oportuno para assassiná-lo com
os seus entes queridos? Ou será que ela
está adormecida em sua mente esperando
a ocasião propícia para despertar e descer
até seu coração... ouvinte meu, meu
irmão?