A CAFETINA E A MULHER ALHEIA

Eu só me meto com a minha própria vida,
a vida dos outros, isso, não me interessa,
no entanto, ao ver você, agora, nessa,
bem, isso me deixa pensando...

Se o Criador te deu
este corpo tão bonito, sensual,
por que não te dá um amante igual,
por que permite um destino tão banal
para o que tens de melhor?

Que me dêem o pior dos castigos
e uma vida solitária,
mas nunca a uma jovem e bela mulher
aquela tortura diária que é um mau marido.

Seus avanços destróem teu viço
seus desejos tua força
e seus movimentos a vontade de viver;
nenhum prazer se pode ter
em carinhos que não se quer.

Que dor de cabeça deves ter
quando ele pergunta enciumado
de onde vens,
onde estavas, para quê, com quem?

Uma outra vida está se discutindo,
as pessoas falam demais,
o amor é algo que depende do destino.
Uma mulher sensata
não desperdiça sua juventude, jamais.

Uma linda casa,
lençóis de cetim,
um marido apaixonado,
não se comparam ao prazer
furtivo, apressado,
que nos dá o amante.

Dar de cara com o outro, de repente,
sem ter marcado encontro,
numa ruela estreita
e aquele beijo cheio de desejo
é algo com que, só por muita sorte
pode sonhar uma mulher.

Os que meditaram sobre o Paraíso
vêem nele a Felicidade Maior.
Para a mulher,
alcançá-la nesta vida
é unir-se ao homem que seu coração quer.

Aqueles que querem para si
a doce fruta da beira do abismo,
pobres loucos, terão, no mínimo,
mágoas, dores e lamentos.

Será que lhes é adverso o curso das estrelas,
ou deram frutos suas más ações de outras vidas,
ou estão querendo apressar, assim, seu próprio fim?

Esse pobre rapaz
ama o vento que roçou tua pele,
beija a terra
que teus pés pisaram,
faz da tua sombra a dele.
Só tem um pensamento, tua beleza,
sílaba a sílaba, repete
uma só palavra, teu nome.
Só há um desejo em sua mente:
alcançar, seja como for
através do teu corpo, a perfeição do amor.