Deserto

(Zé Modesto)

se vais só
deixa em casa a munição
come o pó
leva a roupa do teu corpo em nós
vá veloz
não carregues provisão
vá que o tempo em tua moleira
e o cantar das rezadeiras
valerão na condução

nem farnel
nem chapéu, nem algibeira
nem talão
põe nos pés tuas sandálias
rasga o vão do chão
que o norteio é paciência, solidão
logo chegarão bons ventos
e esse tempo de lamentos
mirrará de inanição

se sentires dura a pena
nesse curso em seu deserto
e entenderes dor tamanha
for demais pra o suplicante
mergulhar em seu desvão
se secar sua moringa
em terra em que nada vinga
carregues teu violão