Virgínia Rosa

Virgínia Rosa

Foto: Gal Oppido

Parece uma bailarina linda
Parece uma cantiga
Parece uma gargantilha
Das internas
Parece muito com ela
Uma menina das lanternas
Parece uma menina eterna

Elisa Lucinda, em poema para Virgínia Rosa

Às vezes nos apaixonamos pela voz de uma cantora tão logo ela soa pela primeira vez nos nossos ouvidos, às vezes nos deparamos extasiados com a voz se movimentando num corpo no palco com delicadeza intensa, carisma.

Ouvi falar pela primeira vez de Virgínia Rosa há alguns anos - Ná Ozzetti disse uma vez: “essa é a voz, você tem que escutar!”. Tive vários encontros com a voz em participações em CDs, ao lado de Itamar Assumpção e Tetê Espíndola, depois veio em solo, nas Canções de Ninar de Paulo Tatit, até que cheguei ao primeiro CD, Batuque - impacto. Mas nunca que conseguia encontrar o dito cujo, até receber uma chamada da Lua Discos lançando A Voz do Coração - corri para comprar, ainda saindo do forno, para apaziguar a voz nos ouvidos. Uma após a outra, as músicas se estenderam dos ouvidos e chegaram ao coração, como predito no título. Espantada, ouvi Virgínia abrir o repertório com Quero, de Thomas Roth - quem poderia gravar Quero depois de Elis Regina? Pois Virgínia pode, com a benção de Calíope (que dentre todas as suas tarefas de musa, ainda abençoa as belas vozes).

Sempre acompanhada pelas cordas de Dino Barioni, seu parceiro na produção do CD, que conta também com a participação da guitarra de Mário Manga e percussão de Ari Collares, Virgínia segue impecável com Beleza Brutal, de Celso Fonseca e Fernando Bastos (autores também da canção do título, a belíssima A Voz do Coração), ensina a cantar samba, relembrando Elizeth nas regravações de Folhas no Ar e Pressentimento, ambas de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho, e com o delicado samba de Chico César, Samba da Pessoa Que Quer Ser Feliz. Embala em baladas com Até a Lua (Ana Maria Pires de Carvalho) e Quase um Segundo (Herbert Vianna), empresta um contagiante arranjo jazzístico em Qui Nem Jiló, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, tira a respiração da gente com sua interpretação de Mãe Preta de Piratini e Caco Velho (o mundo precisa ouvir isso!!!), leva-nos em vôo até nossa infância cantando a folclórica São João Da-Ra-Rão, de domínio público, puxando depois os nossos ouvidos para o rock/baião/balada A Balada do Cachorro Louco (Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves), um preciso arranjo de voz em Pra Que de Luiz Melodia e Ricardo Augusto, novo impacto com Pessoa Nefasta de Gil e fechando o CD com Vão, do grande Dante Ozzetti, defendida por ela no Festival da Música Brasileira da Rede Globo em 2000. Acaba o CD e a gente querendo mais.

E eis que a Coreto Musical traz Virgínia Rosa acompanhada por Dino Barioni para um show no Tilli Center em 14/08/2003, em Barão Geraldo - o encontro com a voz! Soam os primeiros acordes de Quero e o corpo miúdo não se agüenta com tamanha voz e dança, no início timidamente e aos poucos a voz se apossa do corpo, do espaço e do público, que silencia para ouvir espantado, a grande maioria pela primeira vez, a voz que sai do coração de Virgínia. O público pôde então conhecer as canções do segundo CD entrecortadas por outras do Batuque - repertório impecável - Virgínia Rosa seguiu cantando e dançando e embalando, e quando terminou teve que voltar empurrada pela chuva de aplausos. Ali, numa tarde de domingo, tivemos todos o prazer de ouvir uma das maiores intérpretes da Música Popular Brasileira atual. Meninos, eu vi!

Carô Murgel


Embora muitos não saibam, Virgínia Rosa é paulistana nascida no bairro da Casa Verde Alta, zona norte de São Paulo.

Filha de pais mineiros, da mistura de negro e índio herdou este tipo físico e este jeito espontâneo e festivo de cantar que tem emocionado pessoas e conquistado respeito junto à crítica. Um canto que vai além dos estilos musicais e dos rótulos de que às vezes precisamos para identificar um artista. Na sua casa, sua mãe sempre cantarolou e seu pai quando jovem, após o trabalho, tocava instrumento de sopro em banda de coreto no interior de Minas.

Já casado, sempre teve um violão por perto e gostava de brincar com as filhas cantando músicas sertanejas: "Elvira escuta" era a preferida. Foi ele também que apresentou discos de artistas que marcaram Virgínia, como os Beatles e Secos & Molhados.

Virgínia diz que desde pequena, embora um pouco tímida por ser gordinha, tinha uma atração muito forte por espelhos e vivia fazendo cenas, ora dançando, ora representando e, como não podia deixar de ser, cantando também! Esta "brincadeira" sempre a colocou próxima da música ao se imaginar em um palco.

Na adolescência convivendo muito com os primos, com quem escutava música (Elis Regina, Beto Guedes, Alceu Valença, Milton Nascimento e outros mais). Juntos, resolveram montar um grupo que participou de festivais estudantis e fez algumas apresentações, o "Grupo Lógica". O tempo passou e cada um escolheu seu rumo.Virgínia ficou com a música e foi atrás dela.

Começou a estudar violão para ter mais autonomia. Seu primeiro professor foi Luís Rondó. Nas aulas de violão também se cantava, e Rondó acabara de gravar com Itamar Assumpção o disco "Beleléu Via Embratel".

Ele apresentou Virgínia a Itamar, e ela foi a primeira vocalista a entrar na banda Isca de Polícia. Durante três meses, ensaiou com Itamar para pegar aquelas incríveis frases vocais e mudar radicalmente o jeito como cantava até então. Foram cinco anos de convivência junto de pessoas talentosas que hoje se destacam no meio musical.

Depois fez vocal para Tetê Espíndola divulgando o disco "Gaiola".e participando do Festival dos Festivais (Rede Globo), em que Tetê conquistou o primeiro lugar com a música "Escrito nas Estrelas".

No ano de 85, em férias em Trindade (perto de Parati), num papo com Ná Ozzetti surge o convite para substituí-la numa banda que fazia um som bem brasileiro para dançar. Virgínia começa a cantar pela primeira vez à frente de uma banda como solista: foi um marco importante que trouxe muita experiência de repertório e sobretudo confiança em cantar. Assim pôde começar a ensaiar os primeiros passos para uma carreira solo. A banda chamava-se "Mexe Com Tudo". Foram 7 anos que incluíram viagens à Europa, um disco produzido na França e muitos domingos regados a muita música boa de ouvir e também de dançar no bar Avenida. Em 92 a banda se desfaz e Virgínia retoma sua carreira solo que, paralelamente à "Mexe", timidamente já existia. Ao lado de Swami Jr. começa a pesquisar um repertório próprio, com obras de compositores consagrados mas também de contemporâneos.

Por ser muito curiosa e flexível, sempre foi característica de Virgínia participar de projetos de músicas e músicos diversos. É o que se ouve em seu primeiro disco solo "Batuque", produzido por Swami Jr. O CD mais recente, "A Voz Do Coração", produção da própria Virgínia e Dino Barioni, traz as marcas registradas de um trabalho bem pessoal, assinalando sua presença entre as grandes intérpretes atuais da música popular brasileira.

Transcrição do Site Oficial

 

 

Escute uma amostra do trabalho:
Mãe preta
(Piratini e Caco Velho)
Com Virgínia Rosa

Atenção: para ouvir a amostra você precisa do RealPlayer (gratuito) instalado em seu computador. Pegue-o na seção de informática do Terra, clicando aqui.


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A Voz do Coração

Batuque
Samba a Dois
São Paulo e a Lua

A Voz do Coração      

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