Coisa feita

(João Bosco e Aldir Blanc)

Sou bem mulher
De pegar macho pelo pé
Reencarnação
Da princesa do Daomé.
Eu sou marfim
Lá das minas do Salomão,
Me esparramo em mim
Lua cheia sobre o carvão.
Um mulherão,
Balangandãs, cerâmica e sisal,
Língua assim
A conta certa entre a baunilha e o sal,
Fogão de lenha,
Garrafa de areia colorida,
Pedra-sabão,
Peneira e água boa de moringa.
Sou de arrancar couro,
De farejar ouro,
Princesa o Daomé.
Sou coisa feita,
Se o malandro se aconchegar
Vai morrer na esteira
Maré sonsa de Paquetá.
Sou coisa benta,
Se provar do meu aluá
Bebe o Pólo Norte
Bem tirado do Samovar.
Neguinho assim, ó!
Já escreveu atrás do caminhão:
"mulher que a gente não se esquece
É lá do Daomé".
Faço mandinga,
Fecho os caminhos com as cinzas,
Deixo biruta, lelé da cuca,
Zuretão, ranzinza...
Pra não ficar bobo
Melhor fugir logo,
Sou de pegar pelo pé.
Sou avatar, Vodu,
Sou de botar fogo,
Princesa do Daomé