Botequim nº 1

(Sidney Miller)

Se a vida é pouca
Bate palma, bate boca
Bate papo no boteco
Onde a calma faz morada
Bate perna na calçada
Madrugada, bate a porta
Quando a Lua quase morta
Vai batendo em retirada

Se a dor é tanta
Vem comigo, conta e canta
Que tristeza lhe amedronta?
Que paixão te desencanta?
Põe teu copo em minha mesa
Deixa a dor por minha conta
Que teu pranto com certeza
Nunca mais há de voltar

José das Tantas, 
Meu compadre camarada
Não precisa chorar
Porque perdeu a namorada
Mas não perdeu 
Esta vontade de cantar
Antonieta,
Vem ouvir meu samba novo
Deixa o povo falar
Mostra que a vida
Não tem só uma faceta.
Só faz careta
Quem não sabe argumentar

De bar em bar
Minha viola desce a estrada
Tira um toque da alvorada
Tira um verso de ternura
Tira o tom da noite escura
Tira o Sol da madrugada
Faz do amor a partitura
Faz da dor a batucada

E o botequim
Tira de mim essa saudade
Fecha os olhos pra verdade
Mas a vida continua
Quando o dia sai à rua
E a verdade se retrata
Se desfaz a serenata
Morre um sonho e nada mais