(Ricardo Botter Maio)
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Ouço as engrenagens do silêncio
Dentro da noite veloz
E o meu silêncio se enche de planícies africanas
Varridas pelo vento, que atravessa minhas janelas
E traz as vozes e uma interminável esperança
As crianças entoam dialetos e kalimbas
E continuam desafiando as leis da desunião
Numa pipa gigante Deus recebe milhares
De cartas do distante Japão
E quando algumas voam e pousam
Num mundo ainda adormecido
Os anjos sonolentos as recolhem
E os arcos que se armam em todas as fronteiras
Misturam raças, línguas, religiões e as fazem sorrir
E o meu silêncio se enche de quintais sul-americanos
Bolas de gude asiáticas, balões oceânicos
Bonecas caribenhas, esconde-esconde europeus
Pula selas norte-americanos
E as crianças todas juntas
Tirando os monstros de nossos sonhos