(Raul Seixas e Paulo Coelho)
Mas é que se agora
Pra fazer sucesso, pra vender disco
de protesto
Todo mundo tem que reclamar
Eu vou tirar meu pé da estrada
E vou entrar também nessa jogada
E vamos ver agora que é que vai agüentar
Porque eu fui o primeiro
E já passou tanto janeiro
Mas se todos gostam eu vou voltar
Estou trancado aqui no quarto
De pijama porque tem visita estranha
na sala
Aí, eu pego e passo a vista no jornal
Um piloto rouba um "mig"
Gelo em Marte, diz a viking
Mas no entanto não há galinha em
meu quintal
Compro móveis estofados
Me aposento com saúde
Pela assistência social
Dois problemas se misturam
A verdade do Universo
A prestação que vai vencer
Entro com a garrafa de bebida enrustida
Porque minha mulher não pode ver
Ligo o rádio e ouço um chato
Que me grita nos ouvidos
Pare o mundo que eu quero descer
Olhos os livros na minha estante
Que nada dizem de importante
Servem só pra quem não sabe ler
E a empregada me bate à porta
Me explicando que está toda torta
E já que não sabe o que vai dar pra mim comer
Falam em nuvens passageiras
Mandam ver qualquer besteira
E eu não tenho nada pra escolher
Apesar dessa voz chata e renitente
Eu não "tô" aqui aqui pra me queixar
E nem sou apenas o cantor
Que eu já passei por Elvis Presley, imitei
Mr. Bob Dylan
Eu já cansei de ver o sol se pôr
Agora eu sou apenas um latino-americano
Que não tem cheiro nem sabor
E as perguntas continuam
Sempre as mesmas, quem eu sou
De onde eu venho
Aonde onde eu vou dar
E todo mundo explica tudo
Como a luz acende como um avião
pode voar
Ao meu lado um dicionário
Cheio de palavras
Que eu sei que nunca vou usar
Mas agora eu também resolvi
Dar uma queixadinha
Porque eu sou um rapaz
Latino-americano que também sabe se
lamentar
E sendo nuvem passageira
Não me leva nem à beira disso tudo
Que eu quero chegar
E fim de papo