Olho de boto

(Nilson Chaves e Cristóvam Araújo)


E tu ficaste serena
Nas entrelinhas dos sonhos
Nos escaninhos do riso
Olhando pra nós escondida
Com os teus olhos de rio

Viestes feito um gaiola
Engravidado de redes
Aportando nos trapiches
Do dia a dia e memória
Com os teus sonhos de rio

E ficaste defendida
Com todas as suas letras
Entre cartas e surpresas
Recírio, chuva e tristeza

Vês o pesa da tua falta
Nas velas e barcos parados
Encalhados na saudade
De Val-de-cans ao Guamá

Porto de sal das lembranças
Das velhas palhas trançadas
Na rede de um outro riso
Às margens de outra cidade
Ah, os teus sonhos de rio!

Olho de boto
No fundo dos olhos
De toda a paisagem