Talvez o experiente cantor Patrício Teixeira nunca tenha
imaginado que, ao ser contratado para dar aulas de violão à filha caçula do casal
capixaba Jairo e Altina Leão, estaria iniciando a formação musical de uma das mais
virtuosas cantoras do Brasil. Difícil deduzir que a tímida Nara Loffego Leão, então
com 12 anos, estava destinada a registrar seu nome na história da MPB como a intérprete
que abriu caminhos para Chico Buarque, Martinho da Vila, Edu Lobo, Paulinho da Viola e
Fagner, entre outros, e, é claro, como a eterna musa da Bossa Nova.
O título que a acompanhou por toda vida foi adquirido nos tempos em que o
apartamento dos seus pais na Av. Atlântica era o ponto de encontro dos meninos que
criavam "sambas modernos". Nara entregou-se de corpo, alma - e joelhos! - a
iniciante Bossa Nova, mas surpreendeu ao interpretar sambistas esquecidos no seu disco de
estréia. No segundo trabalho, apostou tudo nas canções de protesto. A partir daí,
popularizou-se como a mulher corajosa, diva do Show Opinião e ícone da juventude
brasileira engajada contra a ditadura nos anos 60. E, não satisfeita, ainda teve tempo de
participar do divino Tropicalismo de Caetano e Gil!
Após passar três anos em Paris, refugiou-se dos holofotes. Cuidou de sua
vida particular, estudou Psicologia na PUC, e só voltou pra valer à carreira quando se
viu doente e sem possibilidades de estudar.
Nos últimos anos, levou ao mundo a Bossa Nova em sua voz doce e
emocionada. Quando morreu, na manhã de 7 de junho de 1989, deixou pronto um disco de
versões dos clássicos americanos que embalaram sua adolescência nos musicais exibidos
pelo Cinema Metro Copacabana. A capricorniana nascida em 19 de janeiro de
1942 em Vitória, ES, nos deixou aos 47 anos com
marca registrada de seu signo: o retorno à juventude, fechando o ciclo da vida.
Flávia Crespo
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