Pajé

(Mario Gil e Paulo César Pinheiro)

Foi num ritual de fé
Que um caboclo me levou
Na cabana de um pajé
Feiticeiro da Nação Kraô

Na beira da fogueira pajé sentou
Bebeu meu de Jurema, desencarnou
Deixou seu corpo preso no mundaréu
Foi visitar seu povo, no céu do céu

Seu olho faiscava quando voltou
Na mão trazia o toque de curador
Pegava brasa viva no fogaréu
E ao pôr numa ferida
Purgava mel

Ele andava com um bastão
De raiz de pau
Que virava em sua mão
A cobra-coral

Ele amançava onça com seu licor
Ele beijava bico de beija-flor
Tocava o seu chocalho de cascavel
E o rio recuava seu macaréu

Ele entortava o rumo de caçador
E achava curuminho que não voltou
Quando pescava peixe, não tinha arpéu
Peixe pulava dentro do seu batel

Diz-que em noite de luar
Jura o povo ali
Que já viu ele virar
Uma sucuri