(Guinga e Aldir Blanc)
Hermeto foi na cozinha
pra pegar o instrumental :
do facão à colherinha tudo é coisa musical.
Trouxe concha e escumadeira, ralador, colher de pau,
barril, tirrina, e peneira - tudo é coisa musical.
Me convidou pra uma pinga, meu não pesou com dó,
piscou um olho só, disse que eu tiro a seringa,
que home que não bebe e nega mocotó,
acaba quenga em vez de guinga, se veste de filó
afrouxa o fiofó e o ferrão já nem respira:
encolhe feito um nó
e vai ficar menó...
Assoprou numa chaleira, bateu nema bacia.
Jesus , Ave Maria, era uma sinfonia!
Secador e geladeira entraram no compasso,
dançou a farinheira, saleiro no pedaço e tudo era coisa musical,
funil mandando: ôi! fogão gritando: uau!
Fez um chocalho de arroz e outro de feijão
No talo do mamão cortou a fruta que já vi tocá mais doce,
irmão, direto ao coração.
Assoprou numa chaleira, bateu numa bacia...
Nesse chá de panela que eu senti a vocação:
vi que música é tudo que avoa e rasga o chão.
Foi Hermeto Paschoal que magistral me deu o dom de entender que
o lixo ao avião em tudo há tom
E que até pinico da bom som se a criação é mais
se o músico for bom