(Apá Silvino e Gilvandro Filho)
Já passa da meia noite
Já foram embora os faróis
Os automóveis da rua
E os galos pelos quintais
É só silêncio no mundo
É madrugada no cais
Os barcos jazem esquecidos
Meninos adormecidos
Descansam sobre os jornais
Enquanto a vida se deita
Lá fora o tempo se faz
Os girassóis são do dia
À noite nem brilham mais
Nos becos, gatos vadios
No peito, paixão atroz
Distante, alguém faz de conta
E leva a sua vida tonta
Como se estivesse a sós
Ainda longe a alvorada
Virada pelo avesso
Virá trazer novos raios
O mar responde em tropeço
Daqui pra lá tanta coisa
Pra alguém se desapegar
Um coração sem mistério
Alguém se levando a sério
Espera o dia raiar
Um violão ainda vive
Resiste e geme calado
Um seresteiro fantasma
Sozinho, fica acordado
Pra que, se ninguém lhe ouve
Talento posto pra nada
Vai ver só perdeu a hora
Caiu em si, vai embora
Atrás de outra madrugada