Tradição

(Gilberto Gil)

Int.: 
Conheci uma garota que era do Barbalho, uma garota do barulho 

Namorava um rapaz que era muito inteligente, um rapaz muito diferente 

Inteligente no jeito de pongar no bonde e diferente pelo tipo 

De camisa aberta e certa calça americana arranjada de contrabando 

E sair do banco e, desbancando, despongar do bonde 

Sempre rindo e sempre cantando 

Sempre lindo e sempre, sempre, sempre, sempre, sempre 

Sempre rindo e sempre cantando 

Conheci essa garota que era do Barbalho, essa garota do barulho 

No tempo que Lessa era goleiro do Bahia, um goleiro, uma garantia 

No tempo que a turma ia procurar porrada na base da vã valentia 

No tempo que preto não entrava no Bahiano nem pela porta da cozinha 

Conheci essa garota que era do Barbalho no lotação de Liberdade 

Que passava pelo ponto dos Quinze Mistérios indo do bairro pra cidade 

Pra cidade, quer dizer, pro Largo do Terreiro pra onde todo mundo ia 

Todo dia, todo dia, todo santo dia, eu, minha irmã e minha tia 

No tempo quem governava era Antonio Balbino, no tempo que eu era menino 

Menino que eu era e veja que eu já reparava numa garota do Barbalho 

Reparava tanto que acabei já reparando no rapaz que ela namorava 

Reparei que o rapaz era muito inteligente, um rapaz muito diferente 

Inteligente no jeito de pongar no bonde e diferente pelo tipo 

De camisa aberta e certa calça americana arranjada de contrabando 

E sair do banco e, desbancando, despongar do bonde 

Sempre rindo e sempre cantando 

Sempre lindo e sempre, sempre, sempre, sempre, sempre 

Sempre rindo e sempre cantando