Refavela

(Gilberto Gil )

Iaiá, kiriê, kiriê, iaiá
A refavela revela aquela que desce o morro e vem transar
O ambiente efervescente de uma cidade a cintilar
A refavela revela o salto que o preto pobre tenta dar
Quando se arranca do seu barraco prum bloco do BNH
A refavela, a refavela, ó, como é tão bela, como é tão bela, ó
A refavela revela a escola de samba paradoxal
Brasileirinho pelo sotaque mas de língua internacional
A refavela revela o passo com que caminha a geração
Do black jovem, do black-Rio, da nova dança no salão
Iaiá, kiriê, kiriê, iaiá

A refavela revela o choque entre a favela-inferno e o céu
Baby-blue-rock sobre a cabeça de um povo-chocolate-e-mel
A refavela revela o sonho de minha alma, meu coração
De minha gente, minha semente, preta Maria, Zé, João
A refavela, a refavela, ó, como é tão bela, como é tão bela, ó
A refavela, alegoria, elegia, alegria e dor
Rico brinquedo de samba-enredo sobre medo, segredo e amor
A refavela, batuque puro de samba duro de marfim
Marfim da costa de uma Nigéria, miséria, roupa de cetim
Iaiá, kiriê, kiriê, iáiá