Filho do capitão Monteiro, um dentista e funcionário público, Cyro Monteiro foi talvez o mais típico dos cariocas. Nascido no bairro do Rocha (do qual ele tinha muito orgulho e se proclamava símbolo), em 28 de maio de 1913, o destino só poderia reservar-lhe a música como futuro. Sobrinho do pianista Nonô, um dos mais famosos do Rio de Janeiro, à época, acompanhador de Sílvio Caldas, que ensaiava na casa da família Monteiro, Ciro cresceu em ambiente musical (que no futuro geraria seus sobrinhos Cauby, Andiara, Araken e Moacir Peixoto, cantores e instrumentistas), ouvindo e aprendendo.
Foi o próprio Sílvio Caldas que o lançou, pois em 1933, quando a dupla que fazia com Luiz Barbosa (o cantor do chapéu de palha) se desfez, chamou Ciro para substituí-lo. Apesar do sucesso, cada um acabou para seu lado e, no ano seguinte, Ciro estava no Programa das Donas de Casa, da Rádio Mayrink Veiga, já batucando sua caixinha de fósforos, criando a marca registrada que o acompanharia por toda a carreira.
Como de hábito naquele momento, cantava em todas as emissoras, ao lado dos grandes cartazes. Até ter seu próprio grande sucesso, que veio do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues, com o samba Se Acaso Você Chegasse, em 1937, que ele gravaria na Victor, em 1938.
Figura humana de raras qualidades, Ciro é até hoje (faleceu em 13 de julho de 1973) exaltado por todos quantos o conheceram. Sua simpatia, bondade e bom caráter proverbiais abriam-lhe todas as portas durante a longa carreira, que nem uma enfermidade pulmonar conseguiu interromper. Recuperado, com voz pequena, mas conservando a bossa, a divisão e o vibrato, suas características marcantes, Ciro Monteiro foi senhor de uma das mais bonitas carreiras da música popular brasileira.
Arley Pereira
A
História da Música Brasileira Por Seus Autores e Intérpretes
SESC/TV Cultura
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