Alberto de Castro Guedes nasceu em Montes Claros MG em 13 de Agosto de 1951.
É filho de Godofredo Guedes, seresteiro e compositor, que tem músicas
gravadas pela cantora portuguesa Eugênia Melo e Castro (a valsa Noite sem
luar).
A música e os aviões sempre tiveram muito em comum na vida de Beto Guedes.
Quando pegou num instrumento ela primeira vez - aos oito anos, em Montes
Claros (MG), sua cidade natal - ele não seria capaz de adivinhar que um dia
voaria tão alto na carreira de músico. E nem que conseguiria pisar num avião
de verdade - seu medo de voar contrastava com a obsessão por aeromodelismo.
O tempo livre de Beto sempre foi dividido entre os aviõezinhos de brinquedo
e a paixão pelos instrumentos herdada do pai, Godofredo Guedes, músico e
compositor, responsável pela maioria dos bailes e serestas de Montes Claros.
O gosto pela música estava diretamente ligado aos Beatles. Em 1964, aos 12
anos, quando o quarteto de Liverpool já era febre no mundo inteiro, Beto,
morando em Belo Horizonte, juntou-se aos vizinhos para formar o grupo, The
Bevers (com repertório dedicado aos Beatles, obviamente). Os vizinhos, no
caso, eram os irmãos Márcio, Yé e Lô Borges. A Beatlemania durou toda a
adolescência e ainda incluiu um outro grupo, Brucutus, que animava festinhas
durante as férias em Montes Claros. No final da década, mais amadurecidos,
Beto e Lô começaram a compor e participar de festivais. Em 1969, quando
foram ao Rio participar do Festival Internacional da Canção com a música
"Feira Moderna", bateram na porta do conterrâneo Milton Nascimento. A
acolhida de Milton não poderia ter sido mais proveitosa. A amizade e a
admiração profissional mútua fizeram com que ele convidasse Beto Guedes para
participar do antológico LP "Clube da Esquina", de 1971. Tocando baixo,
guitarra, percussão e fazendo vocais, Beto começava a ganhar projeção junto
com uma turma talentosa, que incluía nomes como Wagner Tiso, Ronaldo Bastos
e Toninho Horta.
A safra de novos músicos mineiros era completada por Flávio Venturini,
Sirlan, Vermelho, Tavinho Moura, entre outros, que Belo foi encontrar quando
decidiu voltar a BH. As gravadoras passaram a abrir os olhos e em 1973 a
Odeon resolveu bancar o LP "Beto Guedes/Danilo Caymmi/Novelli/Toninho
Horta". A Beto, coube um quarto do disco. Não era muito, mas para ele, era o
suficiente. Perfeccionista e naquela altura ainda muito inseguro, não
conseguia acreditar no valor de suas músicas, embora a gravadora já lhe
acenasse com ofertas para gravar um disco solo.
Quatro anos foi o tempo necessário para que criasse asas próprias. Em 1977,
ele finalmente levantou vôo, a bordo do LP "A Página do Relâmpago Elétrico".
O título foi sugestão do parceiro Ronaldo Bastos, depois que este viu no
álbum de um colecionador de fotos de aviões da 2ª guerra, uma imagem do
avião "Relâmpago Elétrico". Tá na cara que Beto, fanático por aviõezínhos de
brinquedo, adorou a sugestão. O disco, que tinha a colaboração de vários
amigos mineiros, chamou a atenção por revelar seus dotes como cantor, já que
até então, ele era conhecido apenas pela versatilidade de
multiinstrumentista. O tímido sucesso das músicas "Lumiar" e "Maria
Solidária" foi suficiente para que o disco chegasse às 21 mil cópias
vendidas, três vezes mais do que calculava a gravadora.
Mal sabiam eles, que "Lumiar" viraria um dos hinos da juventude cabeluda
paz-e-amor e pró-natureza. E que Beto seria um dos ídolos dessa geração,
principalmente após o lançamento de seu segundo álbum, "Amor de Índio". A
faixa-título, dele e de Ronaldo Bastos, integrava o espírito de todo o
disco. Versos como "A abelha fazendo o mel/Vale o tempo em que não vôou" ou
"Todo dia é de viver/Para ser o que for/E ser tudo", segundo Beto,
expressavam o lado primitivo e puro que ainda havia em cada uma das pessoas,
como um canto de louvor à vida.
Quando lançou seu terceiro disco, "Sol de Primavera", em 1980, já tinha uma
legião de fãs no eixo Rio-São Paulo. Mas nunca abandonou a mineirice que se
tornara sua marca registrada. Botava o pé na estrada - de carro, porque não
perdia o medo de voar - , mas continuava morando em Belo Horizonte, onde
tinha a tranqüilidade para se dedicar aos brinquedinhos voadores e às novas
composições. Era na janela, esperando o anoitecer que as idéias surgiam. E
amadureciam tanto, que seus álbuns demoravam no mínimo dois anos para sair.
O quinto deles, "Viagem das Mãos", de 1984, foi um marco em sua carreira.
Àquela altura, Beto Guedes já era um artista de primeira linha, com
vendagens oscilando entre 50 e 60 mil cópias e uma marca sonora registrada.
Mas este álbum trazia a canção que, junto com "Amor de Índio", seria o maior
sucesso de sua carreira: "Paisagem da Janela", de Lô Borges e Fernando
Brant. Ao mesmo tempo, representava o estouro nacional do compositor, que
naquele momento superava o medo de voar e, pasmem, já cogitava pilotar um
ultraleve construído por ele mesmo!
A viagem de Beto alcançara as alturas, e o ápice acabou sendo "Alma de
Borracha", que, lançado em 1986, finalmente lhe rendeu um Disco de Ouro e o
reconhecimento no exterior. O título do disco (tradução de "Rubber Soul")
homenageava os Beatles, enquanto o repertório trazia uma grata surpresa: a
faixa "Objetos Luminosos", primeira parceria com seu mentor e padrinho
musical Milton Nascimento. O Rio de Janeiro - cidade onde fez shows
antológicos e sempre teve recepção calorosa do público - foi o local
escolhido para a gravação de um disco ao vivo, no final de 1987.
Ao todo, foram cinco anos longe dos estúdios. Em 1991, Beto Guedes voltou a
gravar. Com a meticulosidade de sempre, ele cuidou de cada detalhe de
"Andaluz", seu oitavo disco e último contrato com a EMI-Odeon. Um disco em
que o uso de sintetizadores dava um chega pra lá em alguns instrumentos
barrocos tão utilizados pelo compositor em trabalhos anteriores. No ano
seguinte, era de se esperar que Beto caísse na estrada mais uma vez. Mas ele
preferiu trocar o violão pelo macacão de mecânico e passou a dedicar cada
vez mais à sua paixão por aviões, só que construindo um monomotor de
verdade. Foram mais sete anos restritos a shows esporádicos e muita
reflexão.
Até que, lá no alto, sobrevoando os céus de Minas, ele sentiu a sensação de
quem venceu o medo de um desafio e se tornou dono de seu próprio destino.
Olhou para o futuro e viu, no horizonte infinito, música. Os versos já estão
escritos. Mineiramente, Beto Guedes está de volta.
Marcelo Janot -
Release Oficial
Discografia:
1971 - "Clube da Esquina nº1" - participação
1973 - "Beto Guedes / Novelli / Danilo Caymmi / Toninho Horta"
1975 - LP "Minas": Milton Nascimento - participação
1975 - Compacto com Milton Nascimento: "Caso você queira saber" / "Norwegian
Wood"
1977 - "A Página do Relâmpago Elétrico"
1978 - "Amor de Índio"
1979 - "Clube da Esquina nº2" - participação
1980 - "Sol de Primavera"
1981 - "Contos da Lua Vaga"
1983 - "Coletânea - LP Lumiar"
1984 - "Viagem das Mãos"
1986 - "Alma de Borracha"
1991 - "Andaluz"
1998 - "Dias de Paz"
2004 - "Em Algum Lugar"
2005 - "50 Anos - ao vivo" |