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São Paulo - SP, 02/07/1916
+ São Paulo - SP, 24/01/2008
São Paulo
sempre foi pródiga em excelentes violonistas. Na linhagem do lendário
Américo Giacomino, o Canhoto, vieram nomes com os de Aníbal Augusto
Sardinha, o Garoto, Paulinho Nogueira, Armandinho, Aymoré e o não menos
conhecido e talentoso Antônio Rago. Musical já por ascendência, neto de
calabreses e criado no musicalíssimo bairro paulistano do Bexiga, onde
guitarras e violões mesclavam-se nas noites de serenatas, cantadas com o
sotaque peninsular dos recém-chegados da Itália e de seus filhos e
depois netos, o menino Antônio era íntimo de primas e bordões ao entrar
na adolescência. Antes dos 15 anos acompanhava "os mais velhos" nas
valsas e canções, com tal desenvoltura que em pouco tempo já era aluno
de violão clássico.
A vida profissional abriu-se aos 20 anos, quando começou entre os
grandes, integrando com seu violão o conjunto regional de outro
violonista famoso, o paulista Armandinho, na Rádio Record. Para que se
tenha idéia da qualidade do grupo, basta dizer que o terceiro violão era
um certo Zezinho, mais tarde conhecido apenas como... Zé Carioca. Aos
poucos Rago foi se tornando o acompanhador preferido dos grandes
cantores da época, chegando mesmo a escoltá-los ao exterior, como no
caso de sua primeira saída do Brasil, ao se apresentar com Arnaldo
Pescuma, na Rádio Belgrano de Buenos Aires. Francisco Alves, então o
mais popular cantor brasileiro, o escolhe como acompanhador e Rago já
tem carreira definida no final da década de 40, até como compositor.
É chamado, então, para dirigir o Regional da Rádio Tupi de São Paulo,
assumindo posição pela qual viria a ser conhecido artisticamente por
toda a sua carreira. Rago e seu Regional tornaram-se emblemáticos e
personalíssimos. Grandes músicos estiveram em suas formações, como o
violonista Juci, o cavaquinista Esmeraldino, o acordeonista Orlando
Silveira, o clarinetista Siles, entre outros, sempre garantindo
qualidade superior ao grupo.
Foi ele quem acompanhou Francisco Alves na última apresentação do
cantor, na antevéspera de sua morte, na via Dutra, retornando de São
Paulo para o Rio de Janeiro.
Como compositor, sua criação mais famosa é o bolero Jamais te esquecerei, feito em parceria com Juracy Rago, que se tornou uma espécie
de marca registrada musical sua, embora tenha outras obras de sucesso
como Duas Lágrimas, Ranchinho da Saudade, Festa Portuguesa e
O Barão na
Dança, feita em homenagem ao Barão de Itararé, o humorista Aparício Torelli, que, segundo o próprio Rago, apareceu-lhe em sonhos e,
dançando, inspirou a melodia.
Arley Pereira
Coleção A Música Brasileira por Seus Autores e Intérpretes
SESC/TV Cultura
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