Aurora
- o cantonovela
(Luiz Tatit)
A)
Marcando compasso
Oi, estou aqui outra vez
Esperando por ela, esperando
Você lembra como ela era antes?
Você marcava algum encontro
A qualquer hora
Lá estava ela: Aurora!
Você chegava um pouco antes
Dez minutos, meia hora
Estava lá: Aurora!
E que menina dinâmica
De uma pontualidade britânica
Aurora não é mais a mesma
Perdeu seu jeitinho silvestre
Comigo também foi assim
Um desastre!
Isso faz com que todos se afastem
Por que que eu não vi isso antes?
Ver pra quê?
Você crê nos carinhos
Você sempre cai que nem patinho
Você acha que eu fui enganado?
Enganado não digo
Você foi abandonado comigo
Pra mim ela mandou um telegrama
Que me deixou tonto
Dizendo: Tchau, Geraldo, ponto
Por que ela faz isso com a gente?
Esse é um problema pra se resolver
Por que que ela zomba de mim, de você...
Quando ela chegou da sua terra
Era simples, amiga, sincera!
Depois que ganhou malícia
Ficou escalada
Velha de guerra
Ela pisa, maltrata, ela ferra!
O que que isso significa?
Primeiro que ela ê bonita
Mas tem mais
Parece uma longa conversa
Mas tudo começa a clarear
É um tema pra ser discutido
Num bar
Pra essas coisas não há outro lugar
Chega de tanto esperar!
Vivemos há tempo
No mesmo compasso
Estamos bancando o palhaço
Chega de tanta esperança!
Vamos embora
Aproveita
Que a noite é criança.
B) Imagine se eu morresse!
Era só o que me faltava!
Ontem mesmo, eu lembro
Nós marcamos neste horário
Ontem marcamos, hoje não vem
E já não é a primeira vez
Que isso acontece
Nem a segunda
Nem a terceira
Isso sempre aconteceu
Eu fico me arrumando
Fico me enfeitando
Corro pra encontrar o meu amor
Ele falta!
Que coisa mais frustrante!
Será que eu não agrado?
Será que eu sou um fracasso
São perguntas que eu faço
Eu sei que eu não sou linda
Deslumbrante
Desse tipo de beleza
Quando chega sai de baixo
Não sou tanto assim
Mas muita gente vive atrás de mim
Por isso eu pergunto
Por que ele faria isso comigo
Se não fosse induzido
Por alguém que está
Com outro interesse?
E quem é esse alguém?
Por que me deixaria nesse estado
Imagine se eu morresse!
Por quem? Por quem? Por quem?
Ah... agora estou lembrando
Enquanto a gente estava combinando
O nosso encontro
Tinha uma moça
Bem lá no canto
E tudo agora leva a crer
Que é aquela víbora
Uma tal de Débora
Ou Dinorá, me lembrava "devorar"
Ai que ódio dela!
Eu sinto que foi ela!
Pelo seu olhar
E sua risada amarela
O tempo todo lá de sentinela
E nem era bonita
Também não era feia
Simpática talvez
Daquele tipo sorridente e oferecido
Mas de um jeito meio falso
Que você vê que pega mal
Tinha os seus encantos
Mas nada nada nada de especial
Era assim como eu...
Por que então
De duas iguaizinbas
Ele escolhe uma delas
E justamente essa aí não sou eu?
É isso que me grila
Por que que vira e mexe
Eu estou na mesma
E não sei o que aconteceu?
Por quê? Por quê? Por quê?
C) Tempo e espaço
E olha
Eu ainda disse pra ela:
Escolhe o horário, escolhe
Escolhe um horário bem bom pra você
Então ela marcou às nove horas
"Um pouco cedo", eu falei
"Às onze"
E ela mais que depressa
Muito educada, sem fazer pose
Está ótimo! Às onze!
Daí eu que senti mal
Então fica mesmo pras nove
E tá legal!
Pra mim tudo está esclarecido
Não passa de um erro primário
Você foi às nove, ela às onze
Foi o horário
Não foi nada de extraordinário
Então ainda resta uma chance
Corre depressa
Está em cima da hora
Só falta a Aurora ir embora
Meu Deus! Como estou emocionado!
Deixa eu ir junto
Coitado! Você está é pirado
O que que há agora?
Não sei porque
Que eu permaneço aqui
Não vou-me embora
Deve ser mágoa
Mágoa que aflora
Pois eu marquei com ele aqui
Por ser tranqüilo
Aconchegante
Pouca luz
E esse barzinho aí em frente
Mas que barzinho em frente!
Que aconchegante!
Não estou vendo nada
Deve ser mais adiante
Na certa eu parei um pouco antes
Também é tudo igual
É muito parecido
A gente acaba se enganando
E agora o que que eu faço
Eu vou correndo
Pode ser que inda dê tempo
Eu não posso vacilar
Ele tem que estar lá
E olha que eu cheguei a desconfiar
Mas deixa pra lá
No fundo eu já sabia
Que jamais ele faria isso comigo
Quer com Débora ou qualquer Dinorá
No fundo eu já sabia
No fundo eu já sabia que um dia
Tudo ia melhorar
Eu já, eu já, eu já.
D) Aurora namora
Olha Geraldo
Quem vem vindo lá
Essa é a Aurora
Que eu quis te falar
Veja! Ela está como ela era
Simples, amiga, sincera!
Você disse que ela já era
Que está numa outra
Toda mudada
Está nada! Está nada!
É sempre a mesma Aurora
Que se emociona e namora
Como agora
É hora de muita alegria
Agora é Aurora de fato
O encontro foi muito bonito
Um barato!
Um encontro do balacobaco
E fomos felizes pra sempre!
Sim, felizes
Nós e Aurora
Foi tudo uma grande vitória!
O que você está me dizendo?
Pensa um pouquinho
Aos poucos você acaba entendendo.
Vozes: Ná Ozzetti, Geraldo Leite e Pedro Mourão
Guitarra MIDI: Paulo Tatit
Baixo: Swammi Jr
Teclado: Ricardo Breim
Sax MIDI: Hélio Ziskind
Bateria: Gal Oppido
Arranjo: Ricardo Breim
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