(Alexandre Lemos)
Despenca das ladeiras, rebenta desde o céu
Orgulho das primeiras pilastras de Babel
Remonta do começo, da Queda livre ao chão
A Luz que diz mereço, o Verbo que responde não
Deságua na mentira, Adão virando Abel
A mágoa mãe da ira inventa um outro céu
Ainda muito cedo farelos pelo chão
O pão que dorme azedo, o medo que amassa o pão
Brincar de Deus
E arriscar perder de vez os dedos e os anéis
Reinar os Gabriéis e os Davis
Brincar de Deus e nunca ser feliz
O tempo que não pára, não volta e já não é
O brilho do Saara nos olhos de José
O sonho no deserto de cada um de nós
Um mar pra ser aberto, o Verbo procurando a voz
De todos os Juízes, de cada um dos Reis
Rogamos, infelizes, o lado bom das leis
Trocamos de pecado nas noites de perdão
O fel anunciado, o mel de cada tentação
Brincar de Deus
E arriscar perder de vez os dedos e os anéis
Reinar os Gabriéis e os Davis
Brincar de Deus e nunca ser feliz
O Verbo arrependido, a Luz original
A dor não faz sentido mas serve de sinal
O Filho está sozinho, os Césares também
A carne sangra o vinho, a cruz pra sempre diz amém
Brincar de Deus
E arriscar perder de vez os dedos e os anéis
Reinar os Gabriéis e os Davis
Brincar de Deus e nunca ser feliz