O VÔO SOLO DA MATURIDADE
Lucina lança CD "Inteira pra mim", após 26 anos trabalhando em duo -
Ela nasceu Lucia Helena Carvalho e Silva, há 45 anos. Mas quando surgiu para o mundo
da música há 26 anos, durante o Festival Internacional da canção com "Flor Lilás" ao
lado da parceira Luli, já era Lucina.
E foi assim através da dupla Luli & Lucina que fez história na década de 80.
Adotando um estilo meio hippie, meio natureba, o duo fez um exílio voluntário
durante sete anos num sítio em Mangaratiba/RJ, para ficar mais próximo da
natureza, numa das fases mais férteis da parceria. Foi nessa época que compuseram
vários sucessos, muitos deles consagrados por Ney Matogrosso que gravou 12
músicas do duo, entre elas "Pedro do Rio", "Bandoleiro" e "Vira".
Madura, Lucina lança-se agora na carreira solo com o CD "Inteira pra mim", pela Eldorado,
que chega essa semana as lojas de disco.
__ Tantos anos em dupla, eu e Luli acabamos virando um café-com-leite, uma síntese onde é
impossível saber quem é o café, quem é o leite. Senti necessidade de expor os meus pontos
de vista - conta Lucina, que inicia sua turnê este mês por Curitiba eno dia 16 agosto realiza
um show no Memorial da América Latina, em São Paulo, onde contará com a participação especial
de Ney Matogrosso.
O CD reúne 11 músicas, sendo dez inéditas e uma regravação. "Coração na Boca", composta em parceria
com Zélia Duncan, que ganhou uma versão jazzística.
Quem vê neste trabalho o prenúncio do fim da dupla Luli & Lucina está redondamente enganado. Luli avisa
que o duo se apresenta dia 16 deste mês no Teatro Martins Pena, em Brasília, e tem uma turnê didático
cultural, em outubro, por várias universidades da Califórnia, onde ministrarão workshops sobre ritmos
brasileiros. E mais: elas acabaram de gravar CD ao vivo que deve chegar ao mercado até o fim deste ano.
__ Estou super feliz com o CD dela e também estou começando a trabalhar num solo.
Acredito que estes trabalhos não nos divide: pelo contrário, nos fortalece. Ela tem toda a minha benção e
minha força para este desafio - diz Luli, que tem mais de 500 músicas em parceria com Lucina. Outra figura
considerada fundamental por Lucina para o lançamento de sua carreira solo foi a cantora Zélia Duncan.
Uma parceira que já rendeu mais de 50 músicas. Segundo Lucina, as músicas gravadas por Zélia jogaram os
holofotes sobre o seu trabalho.
__ Mesmo não tendo sido as músicas escolhidas pela gravadora para trabalho foram as que as rádios tocaram -
diz Lucina, referindo-se a "Coração na Boca" e "Primeiro Susto". Tiete da dupla desde que tinha 16 anos e
ainda morava em Brasília. Zélia diz ter realizado um sonho ao passar de fã a parceira de Lucina. A comparação
entre o timbre de voz das duas soa como um elogio para Zélia.
__Identifiquei-me com Lucina por causa da voz grave. Aliás, ela teve um papel fundamental na minha vida, pois
na adolescência eu não gostava da minha voz. Eu era tão fã da dupla que já enfrentei até fila para conseguir
um autógrafo delas num disco que guardo, até hoje, como um troféu. A música "Inteira pra mim", que dá título
ao CD de Lucina, na minha opinião, é a letra mais bonita que eu já fiz - avalia Zélia.
Das 11 músicas do CD, quatro são em parceria com Zélia e três com Luli, inclusive "Choro de Viagem", que
Ney Matogrosso incluirá no CD que começa a gravar este mês.
__ Sou suspeito para falar de Lucina. Quantas vezes gravei músicas dela e da Luli. Ela não me surpreendeu com
o nvo CD. Aliás adorei o repertório, tanto que vou gravar uma música. Acho natural que ela busque um trabalho
solo; há necessidade de mostrar o seu individualismo - avalia Ney.
O amor pela natureza que a fez optar pelo exílio em Mangaratiba na década de 80 foi o mesmo que levou Lucina
a se transferir para o Engenho do Mato há seis anos. É na tranquilidade de sua casa, onde mora com os dois
filhos gêmeos de 18 anos, que Lucina compõe suas músicas.
__ Quando recebo a letra fico olhando, como quem não quer nada, e de repente a música vem. Costumo musicar uma
letra em dez minutos. Não consigo racionalizar música. Persigo som até encontrá-lo - diz.
O Globo Niterói/RJ - 05/07/1998