EM ENTREVISTA - Lucina fala de sua vida e arte, em entrevista aos fãs.
Fã-Clube:
Quando a música surgiu na sua vida como opção de vida?
FC:
Como foi o seu primeiro encontro com Zélia e depois da parceria Zélia e
Lucina?
FC:
Como é seu processo de composição? Você recebe a letra pronta e põe
a música ou faz a música primeiro – no caso da Zélia por exemplo.
FC:
Zélia costuma dizer que o Christiaan é o lado pop-hype dela e você
seria o lado hippie?
L:
Concordo! Eu não sou uma compositora Pop. A linguagem do Oyens já é
assim, tudo o que ele faz é Pop. Eu não. Eu sou um fruto da MPB mesmo! Eu faço
um Pop a partir da MPB e não a partir do POP Isso cria um diferencial, podem
notar que minhas músicas embora sejam feitas para a Zélia, têm um toque na
harmonia que é diferente. Isso tudo por causa da minha base que é a MPB. Sou
cria da Bossa Nova, e isso faz esse diferencial. Eu tenho essa coisa bem ligada
na natureza – ela gosta de falar que eu sou uma “sementinha brejeira” .
Uma brincadeira dela.
FC:
Quais foram suas influências musicais?
L:
Desde criança as guarânias de Mato Grosso. Também tenho uma forte
influência Africana porque eu trabalho com ritmos há muito tempo. E trabalho
inclusive como é que esses ritmos funcionam energeticamente dentro e fora do
corpo da gente. Existe uma consciência muito forte energética quando eu estou
tocando o tambor, por exemplo. Sei o que aquele ritmo está fazendo de movimento
na pessoa. Tenho também a coisa harmônica, que é a Bossa Nova mesmo. Menos
Samba, mais Bossa Nova. E como eu pesquiso muito, eu e a Luli tivemos um
programa de rádio em São Paulo durante um ano onde a gente fazia uma pesquisa
de tudo que existe de bom na Música contemporânea Brasileira. Também por ser
alternativa por tantos anos e por causa do programa eu recebi muito material do
Brasil inteiro sobre isso. Então eu conheço profundamente todo o regional que
rola por aí e gosto muito. E como eu toco viola caipira também, pesa muito
essa parte de regional da viola. Tudo isso faz parte da minha influência.
FC:
Algum cantor e compositor teve alguma influência no seu trabalho?
L:
Eu sou completamente influenciada por Gil, por Caetano, por Tom - demais!
– essas pessoas, minhas contemporâneas, mas que eu aprecio demais! Também
alguma escola de música clássica. Tenho paixão pelos Russos, Brahms, Satie e
das melodias de Chopin. As pessoas costumam dizer que eu sou “Chopina”, a
rainha da canção, pois eu tenho uma coisa com a melodia muito forte. Meu
professor de música, Hélio Senna costumava dizer isso para mim: “Você é
romântica”! Isso é uma coisa da canção romântica.
FC:
Que música você escuta?
L:
Eu adoro Chico, gosto
de Rosa Passos, de Gil, de Jocelyn Smith, adoro música africana, Tchaickovisky
e Rachmanninov . Escuto tudo. Se me mandarem uma fita eu escuto.
FC:
Quem é o seu poeta favorito, um romancista e se tem algum livro especial
que tenha marcado a história de sua vida?
L:
É o Drummond. Sou louca por ele. Adoro Milan Kundera. Os livros dele de
uma forma geral me marcaram bastante. Todos. Tem um livro que eu li dele que me
impressionou muito, “A Brincadeira”. Gabriel Garcia Marques também é um
grande, já marcou todo mundo e a mim também. São esses. Mas tenho um xodó
com o Kundera pois minha sensação é de que se eu fosse escrever seria
exatamente aquilo que ele escreve. Seria minha alma gêmea, tenho uma estranha
sensação em relação à ele. Como se fosse eu!
FC:
Você não acha que os artistas hoje tidos como independentes ou
criativos são os que mais traduzem através do seu trabalho a verdadeira
qualidade da Música Brasileira?
L:
Acho sim, porque você consegue fazer aquilo que você quer, e isso é a
liberdade de expressão. Para mim isso é tudo!
FC:
Como você define o álbum “Inteira pra mim”? Quais os instrumentos
que você toca e , de todos os que já tocou qual foi o seu primeiro e qual o
que te define? O CD é um trabalho centrado na percussão?
L:
Meu instrumento primeiro é o violão. Já toquei muito bem a viola
caipira, hoje não toco mais. A ordem é violão, percussão e viola caipira.
Neste CD a diversidade maior é da percussão porque o Murilo O’Reilly que
toca comigo trabalha com a percussão base. O Marcos Suzano toca os pandeiros e
as muringas fazendo toda a parte de graves. De metal são aquelas baixelas. Ao
invés de usar aquela percussão mais tradicional pelo couro eu optei por usar
essa percussão do Murilo que é mais rica ao nível de timbre. Eu tenho uma
preocupação muito grande com o timbre. Dos instrumentos, é muito marcante o
timbre dos instrumentos de percussão. Porque na realidade a base é toda muito
simples e a mesma. Eu não estou diversificando, neste CD é o piano e
eventualmente o teclado, o meu violão dando todas as bases, o baixo com uma opção
muito forte pelos timbres – é a parte mais técnica mesmo – e o bandolim
que o Ney Marques que me dirigiu é um Bandolinista de primeira e eu adoro o
tipo de Bandolim moderno que ele faz. O Inteira pra mim é um CD de MPB, música
moderna, embora diferenciada. Ela não é aquela MPB que se reconhece, aquela
sensação de trio que acompanhava a Elis Regina. Eu assumo todas as influências
que estão perto. Eu não preciso fazer uma coisa pura porque eu não sou uma
neo-hippie, eu não tenho uma série de modernidades na minha vida, isso existe
musicalmente. A essência é MPB.
FC:
Como a percussão apareceu na sua música?
L:
Eu
gostava de dar umas batucadas. Eu comecei a frequentar há muitos anos atrás um
centro de umbanda branca e um belo dia me pediram para tocar e aí eu passei a
tocar mesmo e fui me aprofundar, tive aulas, para aprender o som de musica
africana mesmo. Ganhei toda uma parte técnica. Mas o fato de tocar simplesmente
eu já toco há muito tempo.
FC:
Projetos futuros?
- por Sonia Ribeiro/Sueli Poggio (JUL/2000)