(Iara Rennó e Anelis Assumpção)
lá em cima do piano um líquido satânico
preparado há muito tempo por um tal botânico
deste lado destilado do outro lado fermentado
com açúcar com afeto gota a gota decantado
lá em cima do piano ou naquele bar
tem um copo de veneno que é de amargar
tem um pouco do veneno pior que arsênico
lá em cima do piano tinha um copo de veneno
quem acho bebeu não compreendeu
que a doçura que aparenta é só mais uma ferramenta
lá na casa do chapéu por detrás do breu
mora um senhor titânico neurônio irônico
substrato abstraído de sorriso corroído
pai do roedor de dor traidor traído
lá no fundo do seu crânio debaixo dos panos
um suco libidinoso ácido queimando
revelando das entranhas o que parecia estranho
lá em cima do piano tinha um copo de veneno
quem bebeu morreu o azar foi teu
que foi no bico do corvo até a curva do osso
lá na vila do caroço no fundo do poço
tem um copo de veneno dry-martírio pleno
bolinando as turbinas quando o sangue estricnina
na corrente anfetamina você liga e não atina
sobe a rampa do veneno e pula em cima do piano
deixa pra fulano reparar os danos
mas embebida nos enganos no meio dos meios termos
a desiludida vida tem valor supremo
quem viver verá quem beber esquecerá
que mesmo um copo vazio ainda está cheio de ar