(Iara Rennó e Mário de Andrade)
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma
(Herói da nossa gente)
Era preto retinto e filho do medo da noite.
Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia.
Macunaíma já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
- Ai! Que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. (Pouca saúde, muita saúva pouca saúde, muita saúva os males do Brasil são).
Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. (Acuti pita canhém)
(...)
No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e freqüentava com aplicação a murua a poracê o toré o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma.
(Herói da nossa gente)
Era preto retinto e filho do medo da noite.