11.09

(Iara Rennó e Andreia Dias)

na janela aquele clima cinza tenso
o ar parado sobre os telhados suspensos
não cantava passarinho nem soprava vento
acordei de sobressalto estranha sensação por dentro
senti todos os corações do mundo batendo
num pulso único surdo denso
como se vibrasse um bumbo imenso
mas ao contrário do som soasse só o silêncio

2001 depois de cristo 11 de setembro
em são paulo trânsito lento normal
enquanto em nova iorque explodia o caos
quatro bestas gigantescos boeings de metal
colidindo contra os símbolos do capital
babilônia desabando imagem abissal
estrondo no céu em plena luz do sol
abismo do imprevisto se abrindo
apocalipse now

tudo caindo na real
histeria coletiva caras estupefatas
escombros desespero no espelho das vidraças
do edifício se partindo em brasa
a ilha de manhattan é uma nuvem de fumaça
no alto escalão do pentágono
estrago estilhaçado só ficaram quatro lados
quem sabe o que ainda está intacto
quem prova que existe um só culpado

sistema doente política tísica
desse seu embargo de morte
quem precisa

mais uma página trágica de horror e glória
escrita com sangue pra sempre no livro da história
fazendo de vítima o império do dólar
nosso velho deus que a humanidade adora
faturando à custa da exploração mascarada
natureza devastada estupro das virgens matas
manipulação da cultura de massa
nike mc coca light por toda parte desigualdade
aguçando a crueldade
alimentando os futuros kamikazes
através do vídeo vejo as almas das crianças
que não têm mais que o ódio como herança
um fuzil na mão e a ilusão da recompensa
que Alá lhes dará quando cessar essa pena
de viver sem esperança e morrer por vingança
num deserto de miséria e intolerância

sistema doente política tísica
desse seu embargo de morte
quem precisa